Fotografar casamento é mergulhar na história do casal, não tenho dúvida. Quem acha que é só documentar alguns ritos repetitivos, não fotografa casamento, aperta botão de câmera! Quem fica a parte das circunstâncias do grande dia, esperando a sua cena garantida acontecer, ao final tem um punhado de imagens sem alma. E quem não se interessa pelas pessoas, tanto os noivos quanto os convidados, nem deveria estar ali. Pronto, falei!
Algumas vezes, inclusive e por sorte do destino, deparamos com um casamento de final de semana, onde a aura dos momentos, do lugar, das famílias, tudo parece mágico, repleto de significados bons. Foi o que vivi com Ana Julia, Renato e seus familiares, amigos. É o que conto agora a vocês, que curtem fotografia de casamento pra valer...
O casamento deles é o terceiro que fotografo na família, uma honra que começou com a indicação da Raquel Felix (sempre bom lembrar das conexões) aos noivos Ana Bárbara e Felipe, em 2013. O irmão dela, outro Felipe, casou com a Luciana em 2015. A Lu? É irmã da Ana Julia, agora mais que nunca do Renato! Esse cara aí da foto acreditou tanto em mim que me contratou dois anos antes do provável dia 19 de maio de 2018. Eles não tinham a data definida. O local. A Igreja. Nenhum contrato. Fui o primeiro fornecedor contratado para o casamento e por muito tempo vivi aqui no estúdio a espera pelo grande dia, assim como ele, Renato, à sua maneira. Fomos e somos pacientes, afinal sonhos demoram a ser construídos, realizados, perpetuados...
Ana? As imagens falarão por mim sobre sua beleza. Mas o principal é a sua simplicidade, simpatia e carisma. Disse a ela, nas primeiras reuniões, o que digo às minhas noivas: não se estresse! Verdade!!! Do que adianta durante o casamento você olhar pros detalhes que não estão do seu jeito, se ater a isso, ao invés de curtir intensamente aqueles momentos? As coisas que tinham que acontecer de uma maneira, em evento, às vezes não acontecem. E por diversas dessas vezes, pra melhor, acreditem! ... Advinhem: Ana entendeu o recado.
Então, meses antes, tudo combinado. O casamento seria num lugar paradisíaco, tudo junto - cerimônia e festa. Ótimo, mas e a Igreja? Para as famílias, para os noivos, uma etapa importante precisava ser cumprida. Na sexta-feira, portanto, o casamento religioso deu início às celebrações. O encontro dos noivos, em meio a um mar de montanhas no Hotel Vila Relicário, em Ouro Preto, berço das Minas Gerais, dava o recado de como tudo seria belo.
Uma pausa, por favor. Se imaginem no lugar do Renato, por um instante. Você está lá, esperando seu grande amor. De repente, se vira. Vê uma deusa. Percebe que naquele olhar cabe fácil uma vida. Me diga, qual seria sua reação?
Algo que transbordasse felicidade, né? Pois é, taí uma palavra que preencheu meus dias na cidade histórica, junto a esses dois e muita gente bacana, elegante e sincera! Como o noivo, agradeci a Deus por estar ali, por ser o responsável em registrar aqueles beijos, abraços, aqueles giros de corpos e aqueles olhares mágicos.
Tantas vezes elaboramos a foto no coreto. Em diversas reuniões aqui no estúdio, pensamos o cronograma dos eventos, falamos sobre fotografia mas principalmente sobre como aproveitar gente, espaço e horas para tudo ser bom, ser intenso, ser para eles, por eles, com eles... que sensação gostosa é o dever cumprido...
Mas, que tal agradecer a Ele e a Nossa Senhora do Rosario? Isso, boa ideia!
Uma busca da minha fotografia é apresentar de uma maneira única a troca de alianças. Gosto de reações, de composições inusitadas, de algo mais complexo do que uma peça dourada entrando num dedo rosado. Nesse caso, quis o destino que eu estivesse no alto, contemplando o chão de estrelas, mandalas, flores, sóis, chamem do que quiserem. Mas que chão é esse? Que cor é essa? Que cena é essa? Isso é "gentileza de Deus conosco", né Cris? - Irmã Maria Cristina do Espírito Santo, amiga que se tornou freira e com essa frase explica o que é coincidência.
Mas preciso dar crédito a quem merece. Mario, um sacristão com mais de 35 anos dedicados àquela Igreja, momentos antes me chamou, dizendo assim: "lá de cima tem como fazer uma foto linda, vai lá ver"... no que segui a instrução. No que desci e agradeci a ele mostrando essa foto, o sábio homem revelou: "é esse chão que eu queria que você descobrisse, só não podia falar!" Pra mim, esse cara é um anjo. Aliás, Mario nos levou novamente à Igreja, após a cerimônia e o ensaio dos noivos, para colocá-los aos pés de Nossa Senhora do Rosario, nos contando que tinha operado e retirado o estômago. Mas que estava feliz, porque tinha voltado a trabalhar na Igreja. Eu respondi a ele: "você perdeu o estômago, amigo, mas nunca perderá o coração!"
E o restante da noite foi embalado por música na praça, dedicada aos noivos durante o ensaio do festival de Jazz que ali acontecia. Música no rodízio de pizzas oferecido aos familiares e grandes amigos do casal. Música vinda até do silêncio das luzes preciosas, das paredes de casas e prédios, de uma Ouro Preto encantada.
Eis que surge o sábado do casamento, o tão esperado dia 19 de maio. Segundo o noivo, o dia que tinha 0% de chance de... chuva. Já imaginou o que vem por aí? Claro, grandes emoções reservadas para todos. O início do meu trabalho, nas coberturas "totais" que fotografo, é a preparação da noiva. Símbolos me atraem, além de 'linkarem' sentido a objetos ou a cenas, ou seja, adicionam força estética a algumas imagens. Pendura o vestido naquela estante de livros, ao lado daquele oratório. E ilumina o meu protetor, Santo Antônio, a quem dediquei bem antes desse dia também esses noivos, como todos os outros, à sua bênção e ao seu cuidado. "O que seria de mim, meu Deus, sem a fé em Antônio?"
Adoro observar as relações da noiva com a mãe, com as irmãs, a avó às vezes, às madrinhas... é delicado esse envolvimento, e nesse caso a Ana Lúcia, mãe da noiva, merece meu destaque. Uma mulher linda, que dedicou a vida à construção da família, que vive um caso de amor com seu marido, Julio, há exatos 40 anos, mostrando a força de um casamento feliz. Que casou as três filhas com pessoas de bem, me faz uma declaração às filhas que arrancou lágrimas delas, minhas e da Gabi. Mais um sinal de luz, um bem estar, uma tranquilidade no ar. Ana, a você, meu afeto de filho!
Noiva quase pronta, todos transbordando alegria, mas as previsões estavam erradas. A chuva estava por chegar. Aliás, já estava chovendo no local da cerimônia, um deck na piscina com vista para a imensidão. Ana Julia tem que decidir: mantém a celebração ali ou no espaço da recepção, fechado? Mantém a esperança ou o medo vence? Me calo, mas peço a Deus que responda por ela. Ela decide: "é onde eu sonhei que seria!!!" Eu agradeço a Deus por intervir, peço junto com todos ali presentes que o tempo ajude, que dê tempo, que saibamos, todos, compreender o tempo, as circunstâncias. Um olhar me lembra, bem lá no fundo: já deu tudo certo.
O sol reaparece, acanhado que só ele. Danado! Aqui um parênteses que pode ensinar muita gente sobre o que é ser especial. Para uma noiva, ter sua cerimônia de casamento na chuva é sonho? Não. Para um fotógrafo, trocar sua entrada da noiva ao por do sol e todos os 'flares' e efeitos nas imagens por um final de tarde nublado pra escuro é sonho? Não. Pare! Quem manda? A noiva? O fotógrafo? Não. Só Deus sabe o que está preparado para nós, integrantes de um evento. Por isso é bom esquecer sua foto, seu desejo, sua preferência, sua exigência, seu portifólio. E deixar acontecer, e tornar inesquecível o que vier.
Olhem a foto e me digam: que mais para uma entrada de noiva? Triunfal, ela desce. Todos a contemplam. No fim do corredor e principalmente, seu noivo a vislumbra. O caminho é emoldurado por pedras - elas existem na nossa caminhada mesmo, pelo vento - explico a seguir, pelas montanhas de Minas. Essa foto ganhou o meu prêmio - já que eu não concorro em concursos, e ela é totalmente dedicada à frase decisiva da Ana Julia: "será aqui!!!". Ventou? Alguém tem dúvida?
O que é o vento? Uma das formas do Espírito Santo se manifestar. Estávamos no sábado de Pentecostes, quer mais conexão? Não precisa, né? Quem pode negar as formas voluptuosas de cabelos ao vento, de olhares esprimidinhos, do frio na espinha, do querer ficar bem perto de quem se ama e se aquecer? Olha a magia desse vento, a bênção que ele trouxe, o recado que ele deu a cada um de nós.
Vamos, abençoe também esse casal. Quanto bem querer empenhado num só dia, quantas ideias, quanta coragem. Em casar? Sim, a vida a dois não é fácil. Em fazer uma festa? Sim, tudo tem preço e não anda baixo ultimamente. Em querer um momento do jeito deles? Sim, completamente. A eles meu respeito, torcida, admiração e afeto. Muiiiiiito afeto!
A eles, a minha fotografia! A eles, muitas luzes! E um longo brinde! E um monte de bons amigos! A verdade é que quando estamos cercados por quem mais amamos, o universo conspira a nosso favor. Deus passa com suas luzinhas incríveis ao nosso redor, e é como se flutuássemos de amor!
Como a vida nos ensina. Todos os dias, e a cada casamento aprendo um pouco mais. A chuva veio, tornou-se tempestade, uma parte grande da festa que seria em local externo, a boate, o palco, tudo foi por água abaixo, como se diz. Nessa hora, tudo já tinha dado certo, mas era preciso mais. Ainda dava para ser feliz demais da conta, por que não? Nascemos pra isso, investimos pra isso, estávamos ali pra isso. Portanto, a partir de agora, as imagens que vou mostrar são minha homenagem, de coração, aos fornecedores parceiros que realizaram esse casamento. Gente competente, gente foda no que faz! Mudaram o palco, adaptaram tudo que foi possível. Sensibilizaram-se com as novas condições e arrebentaram a boca do balão. Valeu galera, no final tem a ficha técnica com o nome de vocês pra todo mundo ficar sabendo. Obrigado de coração ao Lucas e ao David, que formaram minha equipe e me abraçaram em tantas horas, tornando tudo mais fácil e divertido. Vamos às fotos:
Ao final, o que dizer? Parabéns, Ana Julia e Renato, por tudo que acreditaram ser possível para o casamento. Cada escolha, todo o empenho.
Parabéns aos seus familiares e amigos. Abraçaram vocês e sua causa. Presentearam, mas acima de tudo estavam presentes, como eu, de corpo e alma. Do início ao fim, passando pelo SIM do altar. Os SIM's, é bom lembrar. Juntos, bem próximos, com cuidado, dedicação e energia demais.
Isso é a fotografia narrando a história de um casamento, mas acima de tudo é o fotógrafo contando o que viu, sentiu e viveu, lado a lado com seus noivos, amigos que ficarão pra sempre no seu coração, assim como ele nas recordações da família que se forma, nas gerações futuras e se Deus quiser, em muitos futuros lindos e grandes momentos de vida! Que assim seja, amém...
Para conhecer o casamento da Ana Julia: https://www.sergioluizcastro.com/portfolio/casamentos/1226044-ana-julia-e-renato
Para conhecer o ensaio da Ana Julia: https://www.sergioluizcastro.com/portfolio/casamentos/1226041-ana-julia-renato-e-a-cena-do-encontro
Para conhecer o casamento da Ana Julia no portal Constance Zahn: http://www.constancezahn.com/casamento-em-ouro-preto-ana-julia-renato/
Sergio Luiz Castro, slc