17/03/2016 às 21:54

Poesia e fotografia de casamento

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4min de leitura

Uma imagem, capturada em meio a um ensaio externo de noivos, tem a intenção de mostrar, muitas vezes, o cenário e os personagens. Para reforçar esteticamente, valem técnicas de enquadramento, composição, luz e sombra claro, profundidade de campo, luz artificial se for o caso... Então todos esses elementos estão sob controle do fotógrafo.

Porém, algumas coincidências (Ir Maria do Espírito Santo me ensinou a chamar de "gentilezas de Deus conosco") escapam ao controle e aparecem após a captura, até mesmo após a edição, tratamento e entrega da imagem. Foi o que aconteceu no ensaio da Izabela Guarino e Antonio Hoffert, em Brumadinho, Serra da Moeda. Um dia inteiro de aventura, emoção, cenário paradisíaco, superação de obstáculos em um caminho sinuoso, carregamos (eu e os noivos) vários quilos de equipamento e oito vasos de margaridas pirambeira abaixo na trilha de uma casa de fundição abandonada. Muita alegria ao final do dia, à noite, na volta para o Estúdio com a sensação do dever cumprido e muitas imagens de relevância para os noivos e esteticamente fortes na bagagem.

Ao mês seguinte coube a entrega das fotos em passepartout, caixa especial de DVDs e o Livro de Arte com o melhor do ensaio externo. A noiva, com sua mãe e avó, admiravam o resultado do livro quando a matriarca da família observa uma imagem: era, ao fundo daquele por do sol, a Serra dos Farofas, local onde ela nasceu e criou a família até se mudar para Brumadinho. O nome foi dado porque os bandeirantes passavam por ali há várias décadas atrás e paravam ao pé da serra para comer a tradicional farofa, antes de seguir viagem. Percebi que aquela senhora, tão carinhosa no dia do casamento, com sua neta mas também comigo e com todos que trabalhavam no grande dia, acabara de receber um presente meu, sem querer.

A Serra dos Farofas, ao fundo (1); o degradée de laranjas serras (2) e os noivos olhando na direção da história (3)

Analisando a imagem, que foi então encomendada pela Carla (mãe da noiva) em formato gigante de impressão museológica, para decoração de sua casa, os picos que indicam a Serra dos Farofas, onde a família teve origem, são ressaltados pelo antepenúltimo dos tons de laranja das montanhas, características em Minas Gerais e que permitiram uma leitura de história, de etapas de vida. E os noivos Izabela e Antonio olham na direção dos picos, sem nenhuma interferência do fotógrafo. Talvez de Deus, mas é como se olhassem para a história, seus antepassados, e tudo aquilo estivesse iluminado, aqui com toda certeza, pela luz divina do sol. A montanha verde, destacada pela sua diferença de cor e quantidade de luz, é a nova história que ali começa. A história de Izabela e Antonio, que desejo com toda minha gratidão, seja de luz e harmonia, esperança e compreensão.


Com todas essas felizes coincidências, ao entregar a impressão museológica, certificada internacionalmente e produzida em parceria com a Art Moulin e Molduras Iany, aproveitei o momento e escrevi uma poesia, dedicada ao novo casal e às especiais mãe e avó da noiva, pessoas lindas e mulheres fortes, a frente de seus tempos. Com vocês, uma de minhas poesias escritas:

Serras, montanhas e a história de gerações

As linhas em degradée laranja-marrom retratam mais que montanhas

Sugerem a história de gerações

Acontece esse fenômeno: o antigo vai desaparecendo

Somos novos e mais fortes, aparentes, repletos de vida


A frente de todas as camadas está o verde

Atual e valorizado no seu próprio tempo

Destacado por sua própria natureza

Serve de palco para um casal apaixonado


Eles olham pra trás, por talvez um acaso

Ali está a narrativa da família da noiva, naquelas curvas de montanhas e serras

Ali está a fascinação do noivo pelo local, pela natureza, pela aventura

Que fazem os casais, afinal, além da aventura?


Mas eles olham pra trás

Será mesmo um acaso? Coincidência? Sorte da cena?

Porque não dizer tudo isso misturado, entrelaçado como os fios da vida

É gentileza de Deus conosco, comigo, com eles


Ao fundo, ao centro, parecendo tocar o infinito

A Serra dos Farofas, onde a avó da noiva nasceu

Onde tudo começou, história encravada nas montanhas mineiras

Contos de uma família que nunca dalí saiu, só se mudou


Serras cobertas de descobrimento, riqueza, dor e alegria

Serras exploradas, desbravadores famintos

Gente de toda espécie e origem que por aquela serra passou e aportou

E nessa estada admirou a beleza mineira com... farofa!


Que honra retratar isso:

o momento, a história e o amor de Izabela e Antonio

Que surpresa e felicidade descobrir isso:

a morada de Maria Amaral, o berço de Carla, a linhagem e a textura


Mais que uma obra de arte

Esse é meu quadro documento histórico para uma família

Com o desejo ardente laranja-marrom de que continuem na linha do tempo

Formando mais contornos altos, baixos e medianos, de tons múltiplos em beleza


Caminha a vida, solta no tempo do criador

Serra da Moeda, Minas Gerais, Abril de 2015

Para conhecer o casamento da Izabela: https://www.sergioluizcastro.com/portfolio/casamentos/1225876-izabela-e-antonio

Para conhecer o ensaio da Izabela: https://www.sergioluizcastro.com/portfolio/casamentos/1225930-izabela-antonio-e-o-ensaio

Sergio Luiz Castro, slc

17 Mar 2016

Poesia e fotografia de casamento

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